terça-feira, 13 de agosto de 2013

De Pernas Quebradas



Sim, fiquei longe por meio século, mas levando em consideração que ninguém lê esse blog e ultimamente não tenho paciência nem pra respirar... Bem, vamos lá à postagem em si.

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De Pernas Quebradas


Sabe quando você se apega a uma pessoa, se apoia nela com todo o seu corpo, sua alma e seu coração, sabendo que ela estará ali por você? Meu seriado favorito, Hannibal, tem um nome para isso, dito em uma frase: "I'm your paddle." (eu sou o seu remo). Remo? Deixe-me explicar. Na cena, o Dr. Hannibal Lecter <3  fala para o investigador especial do FBI, Will Graham, que barco a motores são muito previsíveis. Você sempre tem o motor ali, funcionando por você. Mas se o motor quebra, onde está o seu remo? O remo, no caso, seria o seu alicerce, seu apoio.
Você tem um remo?
Como queira chamar, um ombro amigo, um remo, um alicerce, uma muleta para se segurar; tanto faz. Muitas pessoas - creio que a maioria - têm alguém que se encaixe nesse padrão citado acima. Se você têm alguém assim, sabe o quanto é bom poder contar com essa pessoa. Poder saber que, mesmo nos momentos de pura escuridão, você sempre terá alguém para te dar uma mão e te puxar de volta.
Alguns problemas acontecem quando você se deixa apoiar em alguém dessa forma. A começar que, se apoiar em alguém, dividir o peso, é confortável. É bom, suave, agradável. Depois de certo tempo, você nem lembra mais que está se apoiando na sua muleta, porque isso se tornou mais do que normal. E é aí que mora o problema. Você se apoia demais, e se perde no apoio. Você se funde, líquida e densa, virando uma massa modelável que se gruda mais e mais ao seu remo. E depois de nem se lembrar mais que está se apoiando, você nota que já nem lembra mais quem você era sem esse apoio. Porque, de repente, você é parte da muleta e a muleta é parte de você.
Como uma fórmula matemática, esquecida depois de muito tempo sem usar, você de repente se pega notando que não consegue andar mais sem suas muletas. Viver sem seu alicerce é como andar na areia, mole e imprevisível.
E então, se você é uma pessoa como eu e centenas de outras no mundo, será que pode imaginar o que acontece? Quando seu apoio é a sua droga, de necessárias doses diárias para a sobrevivência, vem o baque. Os alicerces ruem, os remos e as muletas quebram. Quebram, muitas das vezes, porque o seu peso é demais para eles. Eles vão embora,  cansados e aborrecidos. Desistem da causa perdida que você é, um por um, ou todos de uma vez só; a muleta e o alicerce dão-se as mãos e vão embora no galope do remo, sem ao menos acenar um tchauzinho.
Por uma fração de segundo, pequenas partículas de tempo antes de sua muleta se quebrar, você vê a ruína eminente chegando. Você sente, cheira, toca-a. Mas o movimento é mais rápido que suas mãos, e você vê o primeiro racho, a trinca do início do fim. Você assiste a rachadura crescer, seu alicerce arrumar as malas e, exausto, partir. Sua muleta repentinamente se revolta, largando-se do seu aperto.
E é nesse momento que você realiza que está no chão, caído, sangrando. O desespero toma conta de você, mesmo que já tenha vivido essa situação inúmeras vezes. A tristeza e as lágrimas são suas únicas companheiras enquanto você está lá, quebrada no chão, suas pernas retorcidas em posições estranhas. A agonia vem depressa, e você soluça, sabendo que não vai conseguir se levantar tão cedo. Porque você não sabe mais andar com as próprias pernas.
Se ao menos seu remo tivesse avisado previamente que iria partir em busca de uma vida melhor e um peso menor, você poderia ter começado a tentar adquirir independência. Mas o corte é abrupto, e você não estava preparado para o baque com o chão.
E, se como eu você já passou por isso mais vezes do que consegue se lembrar, fica aqui a minha pergunta: porque continuamos a nos apoiar? Se sabemos que vamos acabar caídos e desaprendidos, tendo que ensinar a nós mesmos tudo de novo: como ficar de pé, como se sustentar em seus próprios pés, e por último, como andar.
Um passo de cada vez.
Um doloroso passo de cada vez.


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